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"O debate não é mais sobre legalizar ou não, é sobre como legalizar"

maconha no brasilNa 7ª Marcha da Maconha, pais e filhos, professores e estudantes, gays, feministas, negros, punks, skatistas desfilaram de maneira pontual e tranquila.

Por André Cristi, fotos de Roberto Brilhante

A Avenida Paulista poucas vezes esteve tão perfumada quanto às 4h20 da tarde do último sábado (26), quando milhares de pessoas (de acordo com os organizadores, 15 mil; de acordo com a Polícia Militar, 3 mil) realizaram a sétima Marcha da Maconha de São Paulo. Pais e filhos, professores e estudantes, gays, feministas, negros, punks, skatistas. Usuários ou não, cantavam marchinhas: 

“Se você acha que a maconha mata, a maconha não mata não, quem mata pobre é a polícia, a Rota e o Caveirão.”
 
Desfilando de maneira pontual, tranquila e bem organizada, a Marcha tinha cada um de seus manifestantes com um panfleto trazendo orientações de segurança.
 
Poucos policiais acompanharam a manifestação, que terminou sem detenções. Ao anoitecer, quando a manifestação já se aproximava da Praça Roosevelt, fez-se um minuto de silêncio às vítimas da guerra às drogas.

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A Marcha tinha cada um de seus manifestantes com um panfleto trazendo orientações de segurança.
 
Guerra às drogas é guerra aos negros e pobres
 
Como mostra o minuto de silêncio, a Marcha pretendia aprofundar a discussão da legalização das drogas em vários aspectos. Segundo Júlio Delmanto, organizador da Marcha e membro do coletivo Desentorpecendo a Razão, “é claro que um dos pontos importantes é a questão da liberdade individual. Mas a Marcha discute mais do que isso. A gente acha fundamental, por exemplo, fazer a conexão do racismo com a guerra às drogas, que historicamente atinge sobretudo os negros”, afirmou.

Maconha é uma palavra de origem quimbundu, de Angola. Era uma prática tradicional da senzala. De acordo com Henrique Carneiro, professor de História da USP, há uma relação direta entre proibicionismo e racismo. "A primeira lei contra a maconha é de 1830, contra um hábito, por parte dos escravos, que tinha até uma carga de devoção religiosa. Há um elemento racista na proibição que permance até hoje porque as populações pobres e faveladas continuaram a ter nessa planta um instrumento de lazer, até de uso medicinal", disse.

 
Para Renato Cinco, vereador da cidade Rio de Janeiro pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol), há uma relação direta entre a crise de segurança pública no Rio de Janeiro e a guerra às drogas. “A gente vive uma situação esquizofrênica: o Estado cria leis que fortalecem grupos que depois ele dirá que quer combater. Na verdade, o que a gente observa é que guerra às drogas é uma estratégia de criminalização da pobreza. A guerra às drogas não existe, o que existe é uma guerra aos pobres”, afirmou.

O Uruguai na ponta-de-lança
 
"O Uruguai começou bem, mas tem que avançar." As palavras, parecidas com as de um comentarista esportivo, são de Renato Cinco. Segundo o psolista, Mujica deu dois passos fundamentais: legalizou a maconha e estatizou a grande produção. No entanto, diz ele, "o debate tem que ser sobre a regulamentação do mercado de drogas. Enquanto houver substâncias proibidas, haverá violência, corrupção. Proibir uma droga é abrir mão de fazer o que é possível: regulamentar. Proibindo-se, não se pode regulamentar", defendeu.

Para Henrique Carneiro, o paradigma da proibição já foi ultrapassado. "Acho que agora o debate não é mais sobre legalizar ou não, é sobre como legalizar."

Entre os modelos de legalização, o professor considera o uruguaio como mais inspirador. De acordo com Henrique, ao direito ao plantio, ao pequeno comércio, às empresas cooperativas deve ser combinado um abastecimento estatizado "para evitar que grandes empresas multinacionais açambarquem esse mercado e queiram aumentar cada vez mais seu lucro, como já ocorre com o tabaco e o álcool."

FONTE: http://www.cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FMovimentos-Sociais%2F-O-debate-nao-e-mais-sobre-legalizar-ou-nao-e-sobre-como-legalizar-%2F2%2F30805

 

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