Embora, à primeira vista, fumar qualquer substância pareça um tratamento contraintuitivo para a asma, crê-se que fumar canábis pode aliviar os sintomas desta doença tão comum e debilitante. Aliás, a canábis não é o único medicamento tradicional que pode ser administrado por esta via, o Black Cohosh (A. racemosa) é outra planta que é fumada ocasionalmente para aliviar os sintomas da asma.
O efeito broncodilatador da canábis
Embora não exista uma investigação exaustiva sobre o tema, estudos da época de 70 concluíram que o THC tem um efeito broncodilatador. Este efeito verifica-se com vários métodos de ingestão, tais como a aplicação sublingual e consumo de “medibles”, mas fumar canábis parece produzir resultados mais rápidos e eficazes.
Contudo, há indivíduos que relatam um agravamento dos sintomas asmáticos existentes. Isto pode dever-se a diversos fatores: sensibilidade a um composto ou alergénio específico contido na planta, contaminantes como tabaco ou vestígios de adubos do cultivo ou simplesmente canábis de fraca qualidade. A medicação com canábis de fraca qualidade pode fazer com que seja necessário consumir uma quantidade maior, o que pode provocar irritações devido ao nível elevado de matéria não canabinóide, como é o caso do monóxido de carbono, cianeto de hidrogénio e nitrosaminas.
O que é a asma?
Para poder compreender melhor o possível papel dos canabinóides no sistema respiratório e como estes podem ser eficazes no combate à asma, é necessário compreender a própria asma – o que a provoca e que processos corporais afeta e como.
A asma é uma doença inflamatória crónica cuja prevalência tem vindo a aumentar rapidamente em todo o mundo desde os anos 70, possivelmente devido ao aumento da urbanização e à tendência para a monocultura na agricultura. Os sintomas incluem a falta de ar, tosse, pieira e a sensação de aperto no peito. Os ataques agudos podem ocorrer após longos períodos de estabilidade e podem ser fatais se o tratamento broncodilatador (como por exemplo a utilização de um inalador) não for procurado de imediato.
Fatores ambientais e genéticos
Crê-se que a asma é provocada por uma combinação de fatores ambientais e genéticos. Em termos ambientais, as crises de asma podem ser desencadeadas por poluentes, alergénios como ácaros ou bolores, fumar tabaco e a exposição a substâncias potencialmente nocivas, tais como o formaldeído ou os ftalatos encontrados no PVC. Normalmente, a asma desenvolve-se durante a infância e é comum os casos que são diagnosticados após os 16 anos de idade surgirem em resposta a fatores ambientais ou ocupacionais.
Foi provado que a asma também tem um lado hereditário e vários estudos isolaram genes ou grupos de genes que se crê serem significantes. 25 genes foram associados à asma e muitos destes estão relacionados com a resposta imunológica, em particular, a regulação da inflamação.
A natureza complexa da relação entre a genética e o ambiente é realçada no exemplo seguinte: uma conhecida variante de um gene associado à asma é o polimorfismo de nucleotídeo único encontrado no gene CD14. Todavia, esta variante só resulta em asma quando associada à exposição a uma endotoxina como ou tabaco ou pelo de animal.
A importância das alterações epigenéticas
Para além de criarem variantes que afetam os genes codificados no ADN, tal como é o caso do CD14 (que se encontra no cromossoma 5), crê-se que as alterações epigenéticas possam ser um fator importante por detrás do aumento da prevalência mundial. A epigenética refere-se às alterações hereditárias mas não genómicas do fenótipo celular humano, ou seja, aquelas que não afetam a sequência de ADN.
Tem-se provado que os mecanismos epigenéticos influenciam a diferenciação das células T. É possível que as alterações hereditárias a essas células sejam cruciais para o desenvolvimento da asma, pois estas representam um papel crítico na resposta imunitária. Isto pode explicar por que razão a prevalência da asma tem sido inconsistente ao logo da história da humanidade: é improvável que a expressão fenotípica das alterações ao genoma desapareça e reapareça ao longo do tempo, mas as alterações epigenéticas são mais fáceis de explicar, pois podem ocorrer e recorrer em resposta a alterações ambientais.
Metilação do ADN
A metilação do ADN (a ligação de um grupo de metil a uma base de citosina ou adenina do ADN) é um exemplo conhecido de alteração epigenética e pode ser encontrado na maioria das espécies eucarióticas. A metilação do ADN ocorre durante o desenvolvimento normal nos mamíferos e é essencial para determinar a natureza das novas células, o seu papel no corpo e a expressão de genes que contêm. Fatores ambientais extrínsecos como o álcool, tabaco ou amianto podem conduzir a uma hiper- ou hipometilação, sendo que qualquer uma delas pode afetar a capacidade da célula de se dividir normalmente.
Citoquina e divisão e diferenciação das células T
Crê-se que a metilação de ADN de genes essenciais para a divisão e diferenciação das células T pode impedir ou conduzir diretamente ao desenvolvimento de fenótipos alérgicos. Contudo, até ser feita mais investigação, a nossa compreensão deste fenómeno permanecerá incompleta. O papel das células T na asma é conhecido, mas ainda não é completamente compreendido. Crê-se que a hipersensibilidade das células T (que desempenham um papel crítico na regulação das inflamações) é a grande responsável pelo desenvolvimento da doença.
O papel do sistema endocanabinóide na asma e a resposta imunológica geral é de grande interesse para os investigadores, mas ainda muito tem de ser feito para se poder descrever de forma precisa os processos individuais envolvidos. Foi provado que tanto o THC como o CBD inibem a produção da interleucina 10 (um anti-inflamatório) e a produção de citoquina nas células T in vitro, o que pode afetar o desenvolvimento de doenças inflamatórias dos pulmões, como é o caso da asma.
Resposta individual variável à canábis
Como alguns indivíduos sentiram uma resposta alérgica à canábis, é evidente que a bioquímica em questão varia de indivíduo para indivíduo. Para os asmáticos que desejam experimentar a canábis medicinal, aconselhamos a realização de um teste alérgico para determinar se existe sensibilidade. Para poder fumar canábis de forma segura com vista ao alívio dos sintomas da asma, poderá ser benéfico que opte por variedades de potência elevada, para que a quantidade de material fumado seja inferior e o risco de irritação dos pulmões seja minimizado.
FONTE: http://sensiseeds.com/pt/blog/canabis-e-asma/