Jovens que atuaram como deputados durante o projeto Politeia, na Câmara dos Deputados, atestam que a visão sobre o trabalho dos parlamentares muda depois de participarem do projeto.
Entre os dias 23 e 26 de julho, 130 universitários de São Paulo, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Distrito Federal simularam o trabalho de um parlamentar de verdade durante o Politeia, projeto do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, em parceria com a Câmara dos Deputados. Eles analisaram 140 proposições e, ao final do encontro, conseguiram aprovar apenas três em plenário.
Eleito pela segunda vez como presidente da Câmara dos Deputados do Politeia, o estudante de Ciência Política da UnB André Tadeu Moreira, de 22 anos, representou, no evento, o PSDB. André Moreira afirma que o projeto faz com que diminua o preconceito que existe na sociedade e entre os jovens em relação aos parlamentares:
"A principal lição é que a vida de deputado não é fácil, igual ao que a gente imagina que seja: trabalha três dias por semana só, que não faz nada na Câmara - mas não é. Tem tanta coisa. Você fica correndo de um lado para o outro o tempo inteiro, tem muito projeto passando em várias comissões. Por mais que você seja membro de uma comissão, você tem interesse em outros projetos, então é uma correria. Fora as demandas que os deputados têm que ouvir das suas bases eleitorais."
Os deputados do Politeia aprovaram três projetos. Um deles polêmico. Ele descriminaliza o plantio, o comércio e o uso da maconha e dos produtos derivados dela. Foram 62 votos a favor, 7 contra e uma abstenção. A deputada Isabela Patriota, estudante de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, representou o PT no Politeia. Ela cita um dos motivos que a levaram a votar a favor da proposta:
"Países que já permitiram o uso da maconha, descriminalizaram, começaram pelo passo da descriminalização e depois assumiram a postura de permitir o uso regulamentado, com a maconha devidamente limpa, com substâncias que possivelmente são mais psicotrópicas reduzidas, mostrou que o uso diminuiu e que não houve um dano considerável para a sociedade”.
Já o jovem deputado Gabriel dos Santos, cujo nome parlamentar foi Gabriel Monarquista, estudante de Direito na Unip de Campinas, votou contra o projeto. Gabriel, representando o PP, e outros deputados do Politeia usaram, inclusive, manobras regimentais para tentar impedir a votação da matéria:
"A orientação para o pessoal que foi contra o projeto era para obstruir a votação, para tentar derrubar o quorum, porque aí a gente conseguiria rejeitar o projeto. A gente tentou se utilizar de uma manobra regimental, não tivemos sucesso. A maconha é a porta de entrada para outras drogas e existem, inclusive, estudos que apontam a maconha como causadora de câncer de testículo e outros cânceres”.
A relações públicas Déborah Achcar, chefe do Serviço de Programas Institucionais e Relacionamento com a Comunidade da Câmara, espera que, no próximo Politeia, a Câmara possa custear a vinda de pelo menos um estudante de cada estado, para haver uma representatividade maior. Os jovens que participaram desta edição do projeto bancaram as suas despesas.
De Brasília, Renata Tôrres