Este encontro surgiu como consequência de uma vontade das pessoas da INPUD (na sigla, International Network of People who Use Drugs), ou em bom português, da Rede Internacional de Pessoas… é, isso aí: que usam drogas.
No Brasil, a INPUD uniu recursos com a Open Society Foundation, de George Soros, através da articulação com ativistas brasileiros que até então têm frequentado seus encontros e marcado presença, como Luis Paulo Guanabara, da ONG carioca Psicotropicus. A este movimento uniu-se a Associação Brasileira de Estudos Sociais do uso de Psicoativos (ABESUP) e uma série de entidades politicamente importantes, como o Conselho Federal de Psicologia e Conselho Federal de Serviço Social.
Quem esteve lá?
Dentre as cinquenta pessoas que estiveram em Salvador, na Bahia, para construir e pensar a nova rede, muitas já eram membros da rede internacional (a INPUD), e costumavam representar suas próprias organizações nos encontros que ocorriam em boa parte na Europa.
Por isto, elas receberam convites da própria organização, que pagaram suas passagens e estadia, sem o que muitas delas não teriam condições de comparecer à capital baiana.
Coletivos desconhecidos desta rede inicial, como o nosso, pagamos a própria passagem. Em geral coletivos associados à Marcha da Maconha não estiveram por lá, exceto os de Salvador, Natal e Porto Alegre, o que atribuímos ao fato da rede estar engatinhando, o que se reflete no próprio alcance de parcerias e comunicação. Parceiros do site Hempadão estiveram fazendo cobertura com vídeos e entrevistas.
O que foi discutido?
O desafio principal era a construção, como o nome diz, de uma rede latinoamericana de pessoas que usam drogas, com a escolha de um modelo para representantes (delegad@s) de cada país, objetivos, tempo de atuação e etc.
Outro objetivo seria como pensarmos uma rede brasileira também, desafio esse que, como a história de outros movimentos nos mostra, deve superar a enorme distância geográfica entre associações com uma boa estratégia de comunicação, e principalmente, se fazer algo interessante para que estas associações e coletivos queiram participar.
De que tipo de rede estamos falando?
Como bilhares de pessoas usam drogas anonimamente por aí, falar em “rede de usuári@s” poderia ter bilhões de significados. No contexto da RELANPUD, estamos falando de uma rede composta por pessoas que:
1- Usam alguma substância psicoativa;
2- Já conheciam a rede internacional (INPUD); e
3- São membros de ONGs ou Associações com registro (o Princípio Ativo, por exemplo, até o momento, sempre optamos por não ter registro, como um CNPJ).
Alguns encontros da Rede Internacional (INPUD) já tinham rolado em países latinoamericanos, e por isso, muita gente trazia consigo várias ideias sobre como (e porque) uma rede seria necessária.
O evento em si
Durante o primeiro dia, as pessoas convidadas fizeram apresentações com diagnósticos sobre como estava a situação em seu país.
No segundo dia, reunimo-nos em grupos de trabalho (GTs) em temas variados (Saúde, Justiça, Organização e ações próximas, Políticas públicas e um último para elaborar uma carta aberta do encontro).
Modelo de organização e representações
Ao término do dia, foram apresentadas as discussões de cada GT, e escolhido um modelo de representação. Grupos reuniram-se por país para escolher seus representantes e a estrutura ficou da seguinte forma: colegiado político e grupo administrativo, com período de gestão de um ano.
O colegiado político foi composto por representantes dos sete países presentes (Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, México, Peru e Uruguai), e sua função é definir prioridades e decidir os rumos da RELANPUD ao longo do ano, bem como representações e destino de recursos internacionais, através de projetos a nível continental e local. Neilane, ativista de Natal (RN) dos movimentos antiproibicionista e LGBT, foi escolhida por unanimidade para representar o país.
O grupo administrativo foi composto por representantes de quatro países diferentes, tendo a função de tornar possíveis na prática (burocracia, papelada, etc.) as decisões e apontamentos do colegiado político. Foi escolhido para fazer parte deste o profº Edward Macrae, antropólogo e pesquisador antiproibicionista filiado à ABESUP, com larga experiência na discussão sobre políticas de drogas brasileiras e inserção em temas fundamentais, como a cultura canábica urbana e rural, tendo um importante papel na regulamentação (e no reconhecimento) das tradições ayahuasqueiras do Brasil.
Uma terceira decisão foi quanto à continuidade de Luis Paulo Guanabara, diretor da ONG Psicotrópicus (RJ), como um contato da rede latinoamericana junto à INPUD, o que se apontou como necessário no momento, em uma perspectiva, como afirmou o próprio, de transição de contatos individuais para contatos em rede, que a tornem mais constituída e apropriada deste cenário.
Próxima estação: Uruguay
Com o iminente clima de discussão nas políticas de drogas naquele país, o próximo encontro da RELANPUD será em território vizinho. Em abril de 2013, espera-se que a comissão política recém criada surja com contatos ampliados e novas experiências.
Por aqui, talvez a rede brasileira (até agora chamada de BRANPUD) possa apresentar algo, no que é indispensável a presença dos coletivos e associações envolvidos com a Marcha da Maconha.
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