Serão selecionados 40 voluntários para testar a substância que é alvo de grande discussão no Brasil.
Faculdade de Medicina fará pesquisa 'Efeitos da administração de canabidiol no ciclo do sono, vigília em pacientes saudáveis' (Foto: Reprodução / EPTV).
A Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP) vai estudar os efeitos do canabidiol, substância química encontrada na maconha, no ciclo do sono. Para isso, a faculdade procura voluntários para a pesquisa “Efeitos da administração de canabidiol no ciclo do sono, vigília em pacientes saudáveis”.
Podem participar pessoas de 18 a 50 anos que não apresentem distúrbio de sono nem façam uso de medicação. Os pesquisadores também darão preferência para não fumantes e moradores de Ribeirão. (veja o questionário: https://pt.surveymonkey.com/s/6FRYWCM).
Serão 40 voluntários. Os participantes terão que passar duas noites no Hospital das Clínicas, com intervalo de uma semana, e serão submetidos a uma polissonografia, exame realizado para investigar os distúrbios do sono.
Em uma das noites, os voluntários vão receber uma dose de canabidiol antes de dormir e, na outra, um placebo (substância caracterizada pela neutralidade de seus efeitos indicada para substituir medicamentos com o propósito de controlar os efeitos psicológicos de um paciente durante seu tratamento).
“O objetivo é entender o papel do canabidiol no ciclo do sono. Nós vamos mapear o sono dessas pessoas, pois queremos descobrir como o canabidiol modula o sono. Pode ser que pessoas com distúrbios de sono tenham algum benefício na fase REM [quando a atividade cerebral é mais rápida]”, explicou a psicóloga Ila Marques Porto Linares, responsável pela pesquisa.
O canabidiol tem sido usado para tratamento de crises epilépticas, esclerose múltipla, câncer, fobia social e dores neuropáticas (associadas a doenças que afetam o sistema nervoso central), mas o composto segue na lista de substâncias de uso proibido no Brasil.
Para ter acesso a medicamentos a base de canabidiol, é preciso fazer um pedido de importação à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) acompanhado de prescrição médica, laudo médico e termo de responsabilidade.
Desde abril, quando a Justiça permitiu a importação da substância pela primeira vez, a agência autorizou 37 dos 54 pedidos.
Grande repercussão
Em 27 de junho, uma família de São Carlos, a 105 km de Ribeirão Preto, obteve uma liminar que obrigava a Secretaria Estadual da Saúde e a prefeitura a fornecerem o canabidiol a um menino de 7 anos diagnosticado com Síndrome de Dravet, uma doença degenerativa rara que ataca o sistema neurológico e provoca crises epilépticas.
Antes da decisão, a família importava o composto de forma ilegal e pagava, em média, R$ 1,4 mil por ampola, que é suficiente para um mês.
Pesquisa aponta benefícios em tratamento
Uma pesquisa realizada pela FMRP, em parceria com a Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP), comprovou que o canabidiol possui efeito ansiolítico, sem causar dependência, em pessoas que sofrem de fobia social.
O pesquisador Mateus Bergamaschi, orientado pelos professores Regina Queiroz e José Alexandre Crippa, formou dois grupos de 12 pessoas que apresentavam a fobia, mas nunca haviam sido tratadas, e aplicou uma dose de 600 mg da substância em um grupo e um placebo em outro.
Após duas horas, os participantes de ambos os grupos tiveram que preparar um discurso de quatro minutos para ser lido diante de uma câmera enquanto viam sua própria imagem na televisão.
O resultado foi positivo para o canabidiol. O desempenho das pessoas que receberam a substância foi superior. Elas estavam menos ansiosas e mais confiantes. (Com informações do Serviço de Comunicação Social da Prefeitura do campus de Ribeirão Preto)
Professores são contra proibição
Quatro professores da USP, entre eles José Alexandre de Souza Crippa, orientador da pesquisa dos efeitos do canabidiol no sono, apoiam a reclassificação da substância, de proibida para controlada.
Os professores enviaram uma carta aberta à Anvisa dizendo que, desde os primeiros estudos com o canabidiol em humanos, os pesquisadores constataram que a substância não produz os efeitos psicoativos típicos da planta Cannabis sativa, a maconha. “Inúmeros estudos em animais e humanos têm mostrado que o uso agudo ou crônico do canabidiol é desprovido de efeitos tóxicos e de efeitos adversos significativos.”
De acordo com a nota, “existem fortes evidências de que o canabidiol possui um perfil de efeitos com enorme potencial terapêutico, que inclui efeitos: antiepiléptico, ansiolítico, antipsicótico, neuroprotetor, anti-inflamatório, em distúrbios do sono, entre outros”.