Tecnologia pode criar carros elétricos movidos a maconha.
Pesquisadores descobrem que fibra da cannabis tem capacidade energética comparada ao grafeno.
Técnica utiliza resíduos descartados da produção industrial da cannabis, mas espécie utilizada não possui substâncias psicoativas - RAINER JENSEN / AFP/RAINER JENSEN.
RIO — O crescente interesse pela cannabis está levando a novas descobertas que vão além do uso recreativo e dos já conhecidos tratamentos médicos. Pesquisadores da Universidade Clarkson, em Nova York, desenvolveram uma método capaz de transformar fibras da maconha em supercapacitores com performance energética superior ao grafeno, padrão máximo da indústria atual. Com a descoberta, é possível que, no futuro, a tecnologia seja aplicada a carros e outros dispositivos elétricos.
— As pessoas me perguntam: por que a maconha? Eu respondo, por que não? — disse à BBC David Mitlin, autor da pesquisa apresentada em encontro da Sociedade Americana da Química, em San Francisco. — Nós estamos fazendo materiais como o grafeno por apenas uma fração do preço. E estamos fazendo com os resíduos.
A técnica consiste em “cozinhar” as cascas do caule da cannabis até transformá-las em nanofibras de carbono. Segundo Mitlin, o cultivo da maconha utilizada no estudo é “perfeitamente legal”, pois é livre do Tetra-hidrocanabinol (THC), substância psicoativa da planta.
Em alguns países, incluindo China, Canadá e Reino Unido, a plantação de espécies da cannabis sem substâncias psicoativas é permitida e os derivados são utilizados em diversos setores industriais, como o têxtil, papel e alimentício. Mas a parte interna do caule das plantas acaba sendo descartado. Esses resíduos que foram utilizados pela equipe de pesquisadores.
Diferente das baterias, os supercapacitores possuem baixa capacidade de armazenamento em relação ao peso, mas podem ser carregados e descarregados rapidamente. Nos carros elétricos, por exemplo, a tecnologia é utilizada na captação da energia gerada durante a frenagem.
Atualmente, o material mais eficiente para a aplicação em supercapacitores é o grafeno, mas o custo de sua produção torna praticamente inviável o uso comercial. O grafeno é considerado um material milagroso, mais duro que o diamante, mais condutivo que o cobre e mais flexível que a borracha.
— Obviamente, a maconha não possui todas as características que o grafeno, mas para o armazenamento energético funciona da mesma forma e custa uma fração do preço, entre US$ 500 e US$ 1 mil a tonelada — disse Mitlin.
POR O GLOBO - 13/08/2014